terça-feira, 26 de agosto de 2008

(COLUNA DA PRETA)

INDECISÃO!
Ela reza toda noite pra encontrar outro homem. Não é força de expressão. Tudo para esquecer alguém que sequer diz sim ou não, que não descarta a possibilidade, muito menos assegura certezas.
Ela tem namorado.
Ele tem namorada.
Há três anos se amam em segredo e explodem quando juntos e esfriam quando separados.
Não mudam de vida.
Ela já arriscou completamente: ficou solteira, se distanciou dele, avisou que não mais se encontrariam e não houve jeito de convencê-lo.
Mas ao receber uma mensagem dele no celular, ela corre para tentar de novo.
E tenta como se fosse a primeira vez.
E tenta como se fosse a última vez.
Por fora, já desistiu.
Por dentro, sempre descobre alguma desculpa para recomeçar.
Ela não se sente viva pra fazer mais que isto.
Ela não se sente morta para desistir.
Perdeu a confiança ao longo do período. Não entende o que a impede de ser feliz com ele.
Em si, não estão as respostas. Em si, está a falta de respostas.
“O que fazer?”, ela se pergunta.
A vida costuma troçar dos indefinidos.
O natural é que nem ele nem ela fiquem um com o outro e com seus respectivos pares. Cada um partirá para uma terceira opção.
Porém, não se pode recorrera cálculos genéricos quando se trata de amor. Amor é trabalho.
Pode-se conquistar por simpatia e carisma em fração de segundos, mas pra viver junto são necessárias uma longa persistência e vontade.
Amar não é um dever, e sim um direito. Quando se torna dever nasce à cobrança, a rotina, a dependência.
Ele tem o direito de escolher – o que não está fazendo – ainda que seja errado.
Ela se questiona: “Pode ser afirmação pessoal?”.
Sim, não há paixão que não seja também amor-próprio.
Elegemos para amar quem precisamos ser.
Ao mesmo tempo, devemos tomar cuidado para não confundirmos amor com obsessão. A obsessão não inclui a generosidade. É egoísta, quer apenas o par para servir a seus propósitos e envaidecer as suas opiniões.
A situação dela está no limite entre a repulsa e a atração.
Hoje, mesmo sendo a amante, é ela que se vê traída e não suporta imaginar o que ele faz sem ela.
Não percebe uma recompensa pela sua dedicação, ainda que tenha a consciência de que o amor não traz recompensa, não é seguro de vida.
O impasse dos dois é que nunca se doaram por inteiro, para ver se realmente são complementares.
São metades cômodas se desperdiçando e se consolando.
Eu não conviveria com essa dúvida de que poderia dar certo e não deu. Viver durante décadas com a sensação de que não se foi até o fundo.
Ela reza toda noite pra encontrar outro homem.
Constatou que não adianta rezar contra ele. Ele é sua religião.
TEXTO DE FABRÍCIO CARPINEJAR!

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